terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Natureza no Mundo e no Ser Humano. Projeto Aprender na Natureza.

Salvador, 12 de Fevereiro de 2017

Relato de Adriana Amadio*



“Quando o ser humano se esquece de si mesmo, isto é, da superfície
que compõe sua aparência, então sua essência real assume o posto,
e ele se torna incrivelmente atento e enxerga a luz de mil sóis,
luz que vibra na espessura da coisas. É ai que ele se torna inventivo,
criador, amante apaixonado da Natureza, assim como dos caminhos
aventurosos da ciência. Enfim, ele vê, ele é”.  Ruth Salles


A cada processo que se inicia em nossas vidas abre-se uma rede de oportunidades que nos coloca em movimento. Podemos então nos surpreender, rever conceitos, estabelecer conexões, partilhar momentos repletos de significados onde os sentimentos dão vazão ás inúmeras percepções que somente o trabalho coletivo permite.

Para mim, educadora recém iniciada neste “lado” da atuação em educação este projeto teve- e ainda tem- uma riqueza sem fim. Pude ver semelhanças nos desejos de inserir a nós e ás crianças em situações que favoreçam o convívio permanente, significativo e efetivo com a natureza, mas a natureza em seu estado latente, potente, serena e ao mesmo tempo tempestuosa. Senti identificação com as dúvidas, as dificuldades e os desafios a serem enfrentados para que possamos tornar real este desejo, e percebi que o caminho do diálogo e da escuta não intervencionista deve ser a escolha a ser trilhada. Assim, podemos alcançar e fazer uma correlação com a própria natureza humana, tão complexa, grandiosa e contraditória como pode ser a primeira infância. Tão pura e encantadora, imprecisa e inconstante.

O correr das águas nos mostra que um rio nunca é o mesmo, assim como as crianças não cabem dentro de rótulos e pré conceitos. Seu corpo em desenvolvimento sustenta um mundo interno de possibilidades assim como uma semente sustenta uma árvore. Tais reflexões foram provocadas pelas experiências vividas virtualmente e presencialmente durante este projeto, e deixaram suas marcas na medida em que pude ver a naturalidade com que as crianças do Capão, da Inglaterra e de Salvador são capazes de se entregar e se envolver quando estão em relação com o mundo natural. E quantas ideias formulam sobre o mundo que habitam, e como sentem-se à vontade para interagir, brincar, explorar, e como essa relação lhes faz bem, pois estão intimamente conectadas com os elementos e as estações. Mesmo quando vivem em contextos urbanos, a natureza, quando lhes é apresentada, fala mais alto aos seus corações e os liberta para viverem momentos de grandes e profundas descobertas. Bichos, cheiros, objetos enterrados, lama, flores e todo tipo de pedras, sementes, galhos...O sol, a chuva e a neve sentidos na pele trazem uma noção de pertencimento à esse mundo que acabaram de chegar.

Que tenhamos essa conexão ao longo de nossas vidas, que possamos parar para ver com atenção, com cuidado, a graça e a beleza de formigas enfileiradas levando suas folhas, o movimento da água da chuva, a formação do arco íris no céu... E que tudo isso seja significativo ao ponto de entendermos que somos capazes de manter essa beleza em nosso olhar pela vida toda.Minha reverência e gratidão à todos que pude conhecer e viver uma relação mais próxima da nossa verdadeira essência!






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Quero também partilhar com vocês um trecho de um livro que me acompanhou durante esse grupo de investigação na e com a natureza; o qual fala do elemento água de uma forma muito sintonizada com as experiências que o Grupo Cristal vivenciou ao longo deste percurso:

“A água se apresenta de tantas maneiras na natureza! Ela nos possibilita as mais variadas experiências. Que diferença há entre ser surpreendido por uma chuva de verão torrencialmente pela rua e tocar gotas de orvalho, gotas de prata brilhando no verde da paisagem? Entre mergulhar na água morna e salgada do mar, e se deixar massagear pela água fria e límpida da cachoeira? Entre acompanhar o riacho ligeiro rolando e arredondando os seixos até chegar ao lago sereno e ver a lua refletida como um espelho de prata em suas águas calmas?

A água toma o formato de todo e qualquer recipiente no qual é posta. A gota, sua menor partícula, é arredondada. As plantas que vivem em um ambiente predominantemente aquoso têm formas redondas. As folhas gigantescas da vitória régia são exemplos contundentes. O elemento líquido predomina no organismo humano. As formas arredondadas do corpo infantil — especialmente as do bebê — evidenciam a predominância desse elemento nos primeiros anos de vida. Sabemos que o corpo da criança é formado em 80% de água.

A água limpa o ambiente por onde passa. A chuva lava o pó da folhagem após o longo período de seca. A água corrente remove o barro grudado na pedra que nos impede de ver seu brilho. No entanto, a mesma água se torna lamacenta, pesada e turva ao se misturar com terra. Já nem é possível soltar barquinhos de papel nas enxurradas que inundam as grandes cidades devido o risco de doenças. A água torna a atmosfera densa e pouco transparente ao se misturar com o ar, como vemos nos dias de neblina. No entanto, o mais curioso é que, se ela é retida em um recipiente fechado, sem possibilidade de escoar, apodrece e deixa de limpar e purificar. A água na natureza flui constantemente em ondas e correntes marítimas, na agilidade do riacho, na vagareza dos grandes rios e escoa suavemente dos lagos serenos.

Como podemos proporcionar às crianças a qualidade de fluidez? Com certeza, todos os ambientes onde a água está presente na natureza são vivências grandiosas.

O encontro da água e luz produz tantos matizes de cores! Que maravilha poder ver crianças exclamando: Olha! Um arco-íris! Uma ponte luminosa de gotas brilhantes, iridescentes, um grande portal. Cada portal descerra atrás de si novos espaços; o grande arco de cores no céu mostra a ligação primordial entre o céu e a terra. Vários povos em suas lendas e mitologias revelam essa relação. O arco-íris era para os antigos Gregos a palheta líquida dos deuses, a fonte a partir da qual eles alimentavam a terra de cores. Ali onde o arco-íris toca as superfícies jorram as tonalidades e assim todas as coisas obtém sua cor... Ela expressa a interação entre luz e trevas. No arco de cores, estendido sobre um banco de nuvens escuras, vemos luz e trevas se interpenetrando; suas cores brilham, magníficas como no primórdio da criação. Cada vez que contemplamos um arco-íris, sentimo-nos reconciliados com o criador. Hoje vivemos numa época que a sabedoria do carro solar e do esplendoroso arco de cores está tão distante de nós que podemos reduzi-lo a uma única frase seca: o arco-íris se forma pela interação da hidrosfera e da atmosfera. Mas dessa maneira é impossível caminhar por ele, não se pode transitar entre o céu e a terra! Mesmo de olhos arregalados, não conseguimos sequer imaginar que seres andam, dançam, valsam ao passar por ele...”.

Criança Brincando! Quem a educa? - Luiza Lameirão.



*Adriana Amadio é Psicóloga e Educadora, membro da equipe que realiza ações no Projeto de investigação em cooperação, que envolve 2 escolas públicas na Zona Rural, 1 escola pública na zona urbana, 1 escola privada na zona urbana, no Brasil, e uma Instituição do Reino Unido – Sightlines Initiative. É uma ação desenvolvida pela RedSOLARE Brasil e cofinanciada pelo Conselho Britânico, que se estende de abril de 2016 a março de 2017.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Grupo de Estudos da América Latina para Reggio Emilia - 07 a 12 de maio de 2017!



Saiba mais informações e participe: https://goo.gl/forms/e2MLdnrPkiupgfJM2


 redsolarebrasil@gmail.com  |  + 55 (71) 3036 3009


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Relato de Experiências: Projeto de Investigação em Cooperação.

Um Mergulho na Alma
Jane Machado*


Retornar ao Capão dessa vez foi uma experiência distinta, profunda, inusitada... Olhar para dentro de si e perceber a força, a potência, as fragilidades e as relações.


Pela primeira vez fiquei hospedada na casa de quem vive no Capão! E não há experiência mais significativa do que olhar o local com os olhos dos que vivem nele para ampliar o olhar de forasteiro, de turista. Acordar cedo e aprender com Meire a não colocar a batata e a banana na água para cozinhar, e sim pô-las no vapor para não perder os nutrientes. A alimentação orgânica, o cuidado com as plantas, as rodas de memórias afetivas através das fotos de mãe e filho, nora, neto e amigos partilhando saberes vividos na relação.

Ahhh, o cheiro e o sabor das pitangas comidas diretamente no pé...

(....)

Leia o relato na íntegra: https://issuu.com/redsolarebrasil/docs/um_mergulho_na_alma2




*Jane Machado é educadora, membro da equipe que realiza ações no Projeto de investigação em cooperação, que envolve 2 escolas públicas na Zona Rural, 1 escola pública na zona urbana, 1 escola privada na zona urbana, no Brasil, e uma Instituição do Reino Unido – Sightlines Initiative. É uma ação desenvolvida pela RedSOLARE Brasil e cofinanciada pelo Conselho Britânico, que se estende de abril de 2016 a março de 2017.