quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O que foi Reggio Emilia para mim?

* Adriana Zimmermann
Para falar a verdade foi muito mais do eu esperava. E as expectativas não eram baixas!


Quando se chega ao Centro Loris Malaguzzi já é possível perceber algo especial no ar. Toda a atmosfera do ambiente tem um “Q” a mais e respira-se o respeito ao ser humano nos pequenos detalhes.

Aliás, pode-se dizer que toda a filosofia de Reggio se baseia na sensibilidade e no respeito de realmente enxergar o outro – seja ele adulto ou criança.

Não é à toa que as ideias educativas dessa pequena cidade italiana são aclamadas, estudadas e admiradas por pessoas de diversas partes do mundo.

Em Reggio enxerga-se a criança como um indivíduo capaz, inteligente e com todas as possibilidades de desenvolvimento. Lá, dogmas absolutos não existem, somente espaços abertos para pesquisas, discussões, estudos e muita troca de experiências. As dúvidas e incertezas são muito bem-vindas, pois acredita-se que somente através dos desafios que elas trazem, é que seja possível o crescimento de todos os envolvidos no processo de educação.

O trabalho dos profissionais que ali trabalham, é simplesmente fascinante ao mesmo tempo que exige uma grande entrega por parte deles. Mesmo ganhando pouco, o trabalho realizado é simplesmente fantástico e as horas extras não são poucas.

Como diz a minha mãe: “Quem se torna educador só pode ser louco ou apaixonado.” E está mais do que claro que, para aqueles profissionais, a segunda opção é mais do que verdadeira.

A criança é vista e tratada com a seriedade que merece e, quando isso acontece, os resultados dos trabalhos realizados são impressionantes. Ali, os pensamentos, interesses e sentimentos das crianças são as molas propulsoras de todo o processo de construção do conhecimento. As ideias e observações das crianças são registradas e estudadas, de tal forma que o papel do educador passa a ser: dar o suporte necessário para que os pensamentos das crianças sejam explorados de cabo a rabo, visando sempre a averiguação daquele pensamento.

Quando um projeto se inicia, não se sabe como ele acabará. São inúmeros os caminhos, são inúmeras as formas de expressão da criança e, como não podia deixar de ser, podem ser inúmeros e surprendentes os resultados de um projeto.

A sensibilidade para entender a criança é um dos pontos marcantes do trabalho lá desenvolvido. Trabalho esse que é levado a sério não so pelos educadores, mas por toda a comunidade local. Lá, a escola está inserida na vida. Ou melhor, como disse uma das educadoras: “ Muitas escolas estão preocupadas em preparar os alunos para a vida. Enquanto as pessoas continuarem a ter essa preocupação, não irão perceber que a escola é a vida!”

A mim, que sou apaixonada pela profissão - mas também, pode-se dizer, louca, por trabalhar numa área com tantos desafios – só fica a vontade de voltar muitas vezes à Reggio Emilia, não só para aprender mais, mas também para seguir tendo esperança de que as coisas podem ser diferentes e que, algumas vezes, vale a pena ser “louco” e lutar por aquilo que se acredita.

*Adriana Zimmermann é Coordenadora da escola de educação infantil Curumim, em Frankfurt - Alemanha