* Maria Carolina Rodrigues de Oliveira

Dentro do contexto reggiano pude ver – e não só ver; ouvir muito – sobre o diálogo da arquitetura e a pedagogia. As escolas visitadas são singulares, apesar do mesmo discurso. Espaçosas, os espaços não são hierárquicos; todos têm a mesma importância. As sessões (salas) são amplas e fazem a comunicação entre o espaço externo e o interior. São portas ou grandes janelas de vidro onde tudo e todos se comunicam. Rodeiam um espaço central, chamado “piazza”, que tem a mesma finalidade de convivência, como as praças que vemos em qualquer cidade: um lugar de acolhida.
Das escolas que visitei, uma me chamou mais atenção e me identifiquei demais com ela, não só pela concepção arquitetônica, mas pela recepção que tivemos pelas pedagogas, pelo atelierista, Lanfranco, e óbvio pelas crianças... e como me receberam bem! Brincamos muito e pude ver como elas estavam felizes (que é o que mais me importa em meu trabalho – ver crianças felizes no ambiente escolar).
Enfim, essa “Scuola delle’Infanzia Comunale Paulo Freire” é uma escola que me fez pensar em outras concepções, que talvez eu nunca tivesse tido o olhar suficiente para tais aspectos. É uma escola que foi construída com o conceito da Bio-Arquitetura, preocupada com a sustentabilidade. O telhado, por exemplo, foi feito com madeiras de florestas de reflorestamento, os espaços otimizam a luz do sol. A cozinha entra na mesma linha. Mas foi ponto de grande discussão entre os arquitetos, porque enquanto uns achavam que a mesma tinha que ser intimista, a filosofia reggiana nos mostra que a cozinha também faz parte dos projetos; logo ela tinha que ser aberta também. Sendo assim, são amplas e têm janelas de vidro para a piazza e para o espaço externo. Todos têm acesso!
Pela primeira vez pude sentir a real importância do diálogo entre a arquitetura e a pedagogia. Só estando lá para saber.
Outro ponto levantado e que reforçou as minhas crenças sobre autonomia de uma criança, também veio de um diálogo com Lanfranco sobre os riscos do espaço. Lá existem escadas sem proteções, subidas e descidas que muitos acham arriscado. Mas ele afirmou: acidentes não são raros, são raríssimos! E a resposta para isso é a autonomia dada à criança. Autonomia esta que lhe permite agir e saber como movimentar-se no espaço sem se machucar, que quando um adulto crê na criança, tudo fica mais fácil! Eu, assino embaixo!
* Maria Carolina Rodrigues de Oliveira é coordenadora pedagógica – Steps – Centro de Desenvolvimento e Educação Infantil - São Pau